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domingo, 15 de março de 2009

Dona Silvia



Não fui visitá-la outra vez. Não sei se ela sente falta ou sente alívio. As memórias, apesar de cansativas, conseguem ser agradáveis. Atrás da porta da cozinha ela pendurou um presente que trouxe da minha viagem - que ela, por sua vez, me deu de presente. O azulejo é antigo, assim como a cortina e quase tudo que se encontra lá. A mesa está posta com pão, geléia, queijo e jornais. Ao lado, estão pregadas contas a serem pagas, e embaixo delas, tem um vaso com água e flores, que na maioria das vezes são rosas. Seu cabelo loiro, ressecado e escovado está preso, ela usa um vestido velho, e inquieta procura algo para oferecer à visita. Se senta e dispara a contar com pouco nexo o que se pode contar que é novo - e na verdade é exatamente a ladainha já decorada, só que num dia diferente. O marido aparece e não dá palpite, até que resolve discordar. Daí, ele se levanta, vai assistir o jornal na televisão enquanto ela continua a contar, levando uma xícara transbordando de café até a boca e insiste para que eu coma qualquer coisa. E volta a falar do que eu não canso facilmente de ouvir, o que ela já se esqueceu que eu sei. Mas ela cansa rápido e volta para o computador, sua companhia preferida nos últimos tempos, e eu vasculho vestígios de qualquer coisa pelo enorme apartamento, e acabo encontrando. Folheio os álbuns de foto, do casamento, da lua de mel, do bar mitzvah, da viagem detestável para a Europa (!), vou até a sala, namoro o piano, namoro a vista que dá para as montanhas (montanhas?), dou corda na caixinha de música, abro o guarda roupa para observar seus casacos, frascos de perfume. Ela está lá, não sei se ela se esqueceu ou abstraiu. Ele já dormiu. A empregada diz qualquer coisa, eu concordo, dou tchau e peço para ela trancar a porta.

1 comentários:

Lu-í-sa disse...

1. adoro a foto.
2. os detalhes são lindos, eu mó vi você fazendo tudo que vc falou que fez.
3. gosto muito.